quinta-feira, 6 de agosto de 2009

Emoções e a cesta no basquete sobre rodas

No Brasil, o basquete em cadeiras de rodas no contexto do esporte para deficientes cresceu significativamente nos últimos anos. Assim como ocorre no basquete convencional, o jogador de basquete sobre rodas experimenta momentos e consagração própria e de seus pares sempre que gestos esportivos são executados com precisão e sucesso. O momento de maior emoção no jogo é, sem dúvida, o da cesta. A cesta é o objetivo maior deste jogo.
O que o corpo expressa quando quer vencer desafios
Durante qualquer jogo dentro de modalidades desportivas, os corpos não só se mobilizam para algum tipo de ação, mas expressam uma comunicação rica de significados que vão desde as intenções até as emoções. Esses mesmos corpos também captam a comunicação do outro. Expressando uma cumplicidade diante da necessidade de determinado movimento ou manobra, o atleta só atenta para suas emoções após a realização de uma boa jogada. O basquetebol é um jogo extremamente emocionante e a cesta—escore do jogo e razão para emoções—associa-se com desejos, insatisfações e necessidades. No caso do jogador de basquete sobre rodas, estas emoções não são diferentes. As emoções correm em momentos comuns no desenrolar de uma partida de basquetebol. Estes momentos caracterizam o espetáculo. De modo geral, a emoção impulsiona a motivação que, por sua vez, aumenta a disponibilidade e capacidade para a ação eficiente pelo jogador neste espetáculo. Além disso, a emoção pode ser um fator decisivo no desempenho do jogador durante um jogo importante. Este desempenho no jogo pode ser observado enquanto o jogador em cadeira de rodas manuseia a bola, ou quando está em uma posição de defesa e consegue roubar uma bola do adversário.
A cesta como ícone do empoderamento no jogoUma jogada convertida em cesta deflagra emoções, as quais entram em cena consigo, com seus pares e com o público. O jogador, neste momento, estabelece uma comunicação com o mundo que vai além da “quebra” (desafio) da verticalidade. Emoções próprias são mais prontamente reconhecidas pelo jogador do que detalhes sobre o que ele fez, como fez, ou da força que empregou. Durante o jogo é comum o jogador de basquete sobre rodas perder uma grande quantidade de cestas, mas ao executar outras poucas de grande efeito ele alimenta sua motivação na partida. No caso específico do jogador com deficiência, fazer uma cesta é um bom contexto para analisarmos a relação dele com seu corpo, sabermos mais sobre a essência da sua imagem corporal. Indiretamente é um bom pretexto para expor o perfil de sua identidade e os efeitos da sua experiência existencial enquanto jogador com deficiência.
Estas reflexões sobre o atleta que pratica o basquetebol sobre rodas alertam aos profissionais do esporte sobre o papel das emoções. Olhar o fazer uma cesta não deve ficar apenas confinado ao plano de otimização de diferentes estratégias de intervenção nesta modalidade desportiva, mastambém incluir a linguagem do corpo emocionado. O resultado de preocupações profissionais pode revelar uma abordagem mais humanista no gerenciamento de jogadores com deficiência que têm metas complexas com o esporte, metas que vão além de um protocolo de reabilitação. Metas que incluem inserção social, visibilidade, conquistas, enfim, empoderamento.

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